Os Espíritos não se manifestam para libertar do estudo e das pesquisas o homem, nem para lhe transmitirem, inteiramente pronta, nenhuma ciência. Com relação ao que o homem pode achar por si mesmo, eles o deixam entregue às suas próprias forças. Isso sabem-no hoje perfeitamente os espíritas. De há muito, a experiência há demonstrado ser errôneo atribuir-se aos Espíritos todo o saber e toda a sabedoria e supor-se que baste a quem quer que seja dirigir-se ao primeiro Espírito que se apresente para conhecer todas as coisas. Saídos da Humanidade, eles constituem uma de suas faces. Assim como na Terra, no plano invisível também os há superiores e vulgares; muitos, pois, que, científica e filosoficamente, sabem menos do que certos homens; eles dizem o que sabem, nem mais, nem menos. Do mesmo modo que os homens, os Espíritos mais adiantados podem instruir-nos sobre maior porção de coisas, dar-nos opiniões mais judiciosas, do que os atrasados. Pedir o homem conselhos aos Espíritos não é entrar em entendimento com potências sobrenaturais; é tratar com seus iguais, com aqueles mesmos a quem ele se dirigiria neste mundo; a seus parentes, seus amigos, ou a indivíduos mais esclarecidos do que ele. Disto é que importa se convençam todos e é o que ignoram os que, não tendo estudado o Espiritismo, fazem idéia completamente falsa da natureza do mundo dos Espíritos e das relações com o além-túmulo. A Gênese – Caráter da Revelação Espírita – item 60.
Uma vez feitas essas colocações pelo Espírito de Verdade em A Gênese, uma indagação é feita no intuito de refletirmos: Se os espíritos não nos revelam a ciência, se não nos transmitem todos os conhecimentos do mundo, se não sabem mais do que nós ou se não dizem tudo, qual a serventia da revelação e da comunicação com os estes?
O primeiro pilar a ser construído nesta resposta está alicerçado no trabalho. A troco de que os espíritos nos fariam “favores” que pudessem abreviar nosso próprio aprimoramento na terra por conta do trabalho que desenvolvemos e que nos colocamos à disposição nesta existência. Pensar que os espíritos interferem de modo a “trabalhar por nós” é contrariar a evolução através do esforço próprio e, se assim o fosse, quem tivesse uma condição mediúnica mais apurada teria mais condições de receber esses ensinamentos ditados através das comunicações, o que não existe.
Há sim uma possibilidade de conselhos, dependendo do grau de adiantamento da pessoa. Temos como exemplo Chico Xavier e seu mentor Emmanuel, numa relação de intensa troca, sendo o primeiro muito bem orientado e, com seus esforços, entendimento e adiantamento, colocando em prática todo o bem que trazia consigo.
Outro ponto importante da revelação é justamente a condição do homem na terra e a fecundidade que o momento propiciava quando de sua chegada. “Achando madura a Humanidade para penetrar o mistério do seu destino e contemplar, a sangue-frio, novas maravilhas, permitiu Deus fosse erguido o véu que ocultava o mundo invisível ao mundo visível. Nada têm de extra-humanas as manifestações; é a humanidade espiritual que vem conversar com a humanidade corporal e dizer-lhe: “Nós existimos, logo, o nada não existe; eis o que somos e o que sereis; o futuro vos pertence, como a nós”.
Era chegada a hora, como ainda o é. E a revelação ainda é diária, pois a todo momento temos a oportunidade de fazer algo diferente e mais próximo das palavras do Cristo. Nada pode substituir de maneira completa o trabalho, a caridade, o amor, o desprendimento, a fé, o estudo, a vida. O que os espíritos nos transmitem é matéria para estudo, reflexão, direcionamento e… trabalho! A revelação veio acabar com a incredulidade diante das manifestações inteligentes e o que foi codificado por Kardec através da atuação dos espíritos nos mostra que há um caminho muito grande para a evolução. E para percorrermos esse caminho com mais clareza necessitamos sim das palavras de nossos irmãos espirituais, que fazem parte de nossa “família” e de nosso “convívio”.
Anderson Mendes Fachina